sábado, 20 de junho de 2015

Crítica ao artigo “O Ser e o nome: Homossexualidadeou Homossexualismo? Homossexual ou gay? Uma discussão sobre o melhor uso dapalavra” de Josué Machado (Revista Língua Portuguesa Nº 116)

-->           Gostaria de salientar que o jornalista foi extremamente infeliz em suas colocações, ao fazer comparações entre os termos homossexualidade e homossexualismo, homossexual e gay. O mesmo não levou em consideração conceitos que são aplicados dentro deste grupo específico.
A palavra homossexualismo hoje em carrega muito estigma por aqueles que a dizem e não fazem parte do mesmo grupo, por exemplo, se um negro chama outro negro de preto/pretinho isto não causa estigma nem ofensa. Se um gay chama outro de "viado” isto também não causa ofensa, mas se um/a heterossexual xinga uma pessoa de com este vernáculo, isto causa ofensa no receptor da mensagem, exatamente pelo fato de este não ser um igual, por não sofrer dos mesmos estigmas sociais.
Além disto a palavra homossexual ou a palavra gay são palavras que para as lésbicas trazem um certa dissonância pois, o prefixo homo remete a palavra homem e isto faz com que as mesmas se sintam excluídas. Por este motivo que as lésbicas insistem no uso da palavra lésbica em vez de gay e lesbianismo em detrimento de homossexual para se referir a prática sexual e afetiva entre duas mulheres, por uma questão de identificação e visibilidade feminina, mesmo motivo pelo qual a sigla GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros), ter se tornou LGBT. Ao colocar as lésbicas como a primeira letra da sigla dá-se-as mais visibilidade pois elas representam cerca 1% da comunidade LGBT como um todo.
A palavra gay tende a ser um vernáculo mais neutro neste sentido e contexto, mas a informação do jornalista de que termo passa a ser utilizado para se referir a homossexuais a partir de 1969 não procede pois já no início dos  anos 1960 o termo sofre uma mudança semântica na TV britânica devido ao fato de que no Reino Unido a homossexualidade era crime até quase o final da década de 1960, fazendo com que fossem criados diversos eufemismos sociais para se referir ao homossexual masculino.
Também troca-se o termo Queer (estranho, exótico) por Gay (alegre), tentando incutir neste significado mais leve. O termo queer só é reapropriado pelo movimento LGBT muito depois.
Hoje termos como: homoparentalidade, homoafetividade, família homoparental entre outros, já fazem parte da realidade dos brasileiros, seja na TV, rádio, revistas ou outras mídias. O que existe é uma falta de educação formal para as diversas expressões da sexualidade. Se iniciativas neste sentido não tivessem sidos barradas, já teríamos pelo menos uma geração nas escolas brasileiras sendo educada para a diversidade sexual existente no planeta. Iniciativas neste sentido já estão implantadas no Reuno Unido, França, Norte da Europa, Holanda e Dinamarca. Nos últimos tempos todas as iniciativas tentadas neste sentido foram barradas por assembleias legislativas, câmaras municipais e mesmo pelo nosso congresso nacional que está cada vez mais conservador.
Dizer que termos como homossexualidade e homossexualismo são termos parecidos como o próprio dicionário os traz é ingenuidade do autor, pois as pessoas que foram educadas de uma maneira ou de outra para a diversidade sexual não usam o termo homossexualismo pois sabem que o mesmo está carregado de significados negativos. Quando em entrevistas à TV, Rádio ou Internet ouve-se gays usando o termo homossexualismo pode-se imaginar alguns motivos: um lapso momentâneo onde a pessoa repetiu um termo a  muito utilizado ou porque esta pessoa tem pouca familiaridade com estudos de gênero e Queer (algo que logicamente nem todos os gays se interessam), além é claro de pouca familiaridade com os “novos” termos referentes a práticas sexuais cunhados a partir da liberação sexual nos anos 1960. Ao passo que heterossexauais, sejam eles esclarecidos ou não, que ao se referir a um homossexual utilizam a palavra homossexualismo, muitas vezes utilizam  esta palavra com uma terrível carga de doença, inadequação ao padrão heteronormativo, exclusão social e transtorno mental que estão impregnados neste termo. Portanto ao utilizar este temo geram ofensa e mesmo sentimento de repulsa pelo receptor da mensagem se o mesmo se enquadrar no espectro homossexual da sexualidade.
Ao comparar termos com sufixos “-ismo” e “-idade”, o mesmo salienta que estes podem ter carga positiva ou negativa dependendo do receptor e emissor da mensagem, o que realmente é verdade. Nem sempre termos com um ou outro sufixo são ruins, mas é super importante se orientar sobre o uso corrente das palavras em questão. O dicionário traz um significado imparcial do uso das palavras, mas é o falante que carrega seu uso cotidiano. Neste sentido o uso da palavra homossexualismo deve ser desincentivado no cotidiano e incentivado o uso de homossexualidade pois esta não carrega os estigmas já citados e a escola tem papel fundamental neste troca de semântica pois com professores bem preparados para encarar a diversidade dos alunos, estes podem fazer um uso das palavras sem que estas causem ofensa ao receptor da mensagem.  
Encontra-se aí a importância de se incentivar o uso da palavra homossexualidade que tem ressonância com sexualidade em vez de homossexualismo que remete a doença, transtornos mentais e desvios da heteronormatividade.
O autor também afirma que a palavra homossexualismo foi proscrita da literatura médica e psicológica, mas ele esquece-se que a literatura queer está muito mais próxima de nós que vivemos no mundo da literatura que a literatura médica e psicológica em si. Basta lembrar Oscar Wilde, Boccage, Proust, André Gide, Jean Genet e tantos outros autores queer que estudamos dentro e fora da academia.
Os estudos queer são recentes no Brasil, provavelmente chegaram por aqui na década e 1990 mas fora daqui os estudos de gênero começaram com nossa querida Simone de Beauvoir e seu Segundo Sexo. A importância de se estudar e combater a heternoratividade é fator culminante ao escrever um artigo sobre homossexuais em 2015, ainda mais numa revista sobre a Língua Portuguesa, que deve primar pela construção de nossa língua.
Pelo fato de vivermos numa sociedade sexista e heteronormativa o autor, sem querer eu acredito, utiliza-se desta carga social e cultural de onde vivemos para escrever seu texto. Vivemos hoje num mundo onde o paradigma da heteronormatividade deve ser quebrado para que homens e mulheres de diversas expressões da sexualidade humana possam sentir-se aceitos no mundo em que que vivemos.
Por fim o autor faz algumas confusões em relação as datas. Além do termo gay/homossexual que citei no início do texto que o autor localiza no ano de 1969, também há um equívoco em relação a retirada da homossexualidade do rol de doenças da Associação Americana de Psiquiatria que retirou a orientação sexual da lista de transtornos mentais em 1973, e em 1975, a Associação Americana de Psicologia adotou a mesma posição evitando assim preconceitos e estigmas falsos e não ambas em 1975 como afirmado no artigo.
Concluindo, acredito que o autor deveria ter pesquisado mais antes de escrevê-lo, por mais que tenha sido um artigo de apenas duas páginas ele poderia estar mais claro em suas informações, auxiliando assim na formações dos leitores sejam eles professores ou não, na minha opinião o artigo mais deseduca do que informa àqueles que o leêm.

Este que vos fala!

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Ateu, Socialista, Idealista, Humanista, Amante de Boa Música e de Bons Vinhos! Gay Nerd! Estudante de Fotografia e Hitória da Arte!

Existe poesia erótica ou tudo é pornografia?