A palavra
homossexualismo hoje em carrega muito estigma por aqueles que a dizem e não fazem
parte do mesmo grupo, por exemplo, se um negro chama outro negro de preto/pretinho
isto não causa estigma nem ofensa. Se um gay chama outro de "viado”
isto também não causa ofensa, mas se um/a heterossexual xinga uma pessoa de com
este vernáculo, isto causa ofensa no receptor da mensagem, exatamente pelo fato
de este não ser um igual, por não sofrer dos mesmos estigmas sociais.
Além disto a palavra
homossexual ou a palavra gay são palavras que para as lésbicas trazem um certa
dissonância pois, o prefixo homo remete a palavra homem e isto faz com que as
mesmas se sintam excluídas. Por este motivo que as lésbicas insistem no uso da
palavra lésbica em vez de gay e lesbianismo em detrimento de homossexual para
se referir a prática sexual e afetiva entre duas mulheres, por uma questão de
identificação e visibilidade feminina, mesmo motivo pelo qual a sigla GLBT
(Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros), ter se tornou LGBT. Ao colocar as
lésbicas como a primeira letra da sigla dá-se-as mais visibilidade pois elas
representam cerca 1% da comunidade LGBT como um todo.
A palavra gay tende a
ser um vernáculo mais neutro neste sentido e contexto, mas a informação do
jornalista de que termo passa a ser utilizado para se referir a homossexuais a
partir de 1969 não procede pois já no início dos anos 1960 o termo sofre uma mudança semântica
na TV britânica devido ao fato de que no Reino Unido a homossexualidade era
crime até quase o final da década de 1960, fazendo com que fossem criados
diversos eufemismos sociais para se referir ao homossexual masculino.
Também troca-se o termo Queer (estranho, exótico) por Gay (alegre), tentando incutir neste
significado mais leve. O termo queer
só é reapropriado pelo movimento LGBT muito depois.
Hoje termos como:
homoparentalidade, homoafetividade, família homoparental entre outros, já fazem
parte da realidade dos brasileiros, seja na TV, rádio, revistas ou outras
mídias. O que existe é uma falta de educação formal para as diversas expressões
da sexualidade. Se iniciativas neste sentido não tivessem sidos barradas, já
teríamos pelo menos uma geração nas escolas brasileiras sendo educada para a
diversidade sexual existente no planeta. Iniciativas neste sentido já estão
implantadas no Reuno Unido, França, Norte da Europa, Holanda e Dinamarca. Nos
últimos tempos todas as iniciativas tentadas neste sentido foram barradas por
assembleias legislativas, câmaras municipais e mesmo pelo nosso congresso
nacional que está cada vez mais conservador.
Dizer que termos como
homossexualidade e homossexualismo são termos parecidos como o próprio
dicionário os traz é ingenuidade do autor, pois as pessoas que foram educadas
de uma maneira ou de outra para a diversidade sexual não usam o termo
homossexualismo pois sabem que o mesmo está carregado de significados
negativos. Quando em entrevistas à TV, Rádio ou Internet ouve-se gays usando o
termo homossexualismo pode-se imaginar alguns motivos: um lapso momentâneo onde
a pessoa repetiu um termo a muito
utilizado ou porque esta pessoa tem pouca familiaridade com estudos de gênero e
Queer (algo que logicamente nem todos
os gays se interessam), além é claro de pouca familiaridade com os “novos”
termos referentes a práticas sexuais cunhados a partir da liberação sexual nos
anos 1960. Ao passo que heterossexauais, sejam eles esclarecidos ou não, que ao
se referir a um homossexual utilizam a palavra homossexualismo, muitas vezes
utilizam esta palavra com uma terrível
carga de doença, inadequação ao padrão heteronormativo, exclusão social e
transtorno mental que estão impregnados neste termo. Portanto ao utilizar este
temo geram ofensa e mesmo sentimento de repulsa pelo receptor da mensagem se o
mesmo se enquadrar no espectro homossexual da sexualidade.
Ao comparar termos com
sufixos “-ismo” e “-idade”, o mesmo salienta que estes podem ter carga positiva
ou negativa dependendo do receptor e emissor da mensagem, o que realmente é
verdade. Nem sempre termos com um ou outro sufixo são ruins, mas é super
importante se orientar sobre o uso corrente das palavras em questão. O
dicionário traz um significado imparcial do uso das palavras, mas é o falante
que carrega seu uso cotidiano. Neste sentido o uso da palavra homossexualismo
deve ser desincentivado no cotidiano e incentivado o uso de homossexualidade
pois esta não carrega os estigmas já citados e a escola tem papel fundamental
neste troca de semântica pois com professores bem preparados para encarar a
diversidade dos alunos, estes podem fazer um uso das palavras sem que estas
causem ofensa ao receptor da mensagem.
Encontra-se aí a
importância de se incentivar o uso da palavra homossexualidade que tem
ressonância com sexualidade em vez de homossexualismo que remete a doença,
transtornos mentais e desvios da heteronormatividade.
O autor também afirma
que a palavra homossexualismo foi proscrita da literatura médica e psicológica,
mas ele esquece-se que a literatura queer está muito mais próxima de nós que
vivemos no mundo da literatura que a literatura médica e psicológica em si.
Basta lembrar Oscar Wilde, Boccage, Proust, André Gide, Jean Genet e tantos
outros autores queer que estudamos dentro e fora da academia.
Os estudos queer são
recentes no Brasil, provavelmente chegaram por aqui na década e 1990 mas fora
daqui os estudos de gênero começaram com nossa querida Simone de Beauvoir e seu
Segundo Sexo. A importância de se estudar e combater a heternoratividade é
fator culminante ao escrever um artigo sobre homossexuais em 2015, ainda mais
numa revista sobre a Língua Portuguesa, que deve primar pela construção de
nossa língua.
Pelo fato de vivermos
numa sociedade sexista e heteronormativa o autor, sem querer eu acredito,
utiliza-se desta carga social e cultural de onde vivemos para escrever seu
texto. Vivemos hoje num mundo onde o paradigma da heteronormatividade deve ser quebrado
para que homens e mulheres de diversas expressões da sexualidade humana possam
sentir-se aceitos no mundo em que que vivemos.
Por fim o
autor faz algumas confusões em relação as datas. Além do termo gay/homossexual
que citei no início do texto que o autor localiza no ano de 1969, também há um
equívoco em relação a retirada da homossexualidade do rol de doenças da Associação
Americana de Psiquiatria que retirou a orientação sexual da lista de
transtornos mentais em 1973, e em 1975, a Associação Americana de Psicologia
adotou a mesma posição evitando assim preconceitos e estigmas falsos e não
ambas em 1975 como afirmado no artigo.
Concluindo, acredito que o autor deveria ter pesquisado mais antes de
escrevê-lo, por mais que tenha sido um artigo de apenas duas páginas ele
poderia estar mais claro em suas informações, auxiliando assim na formações dos
leitores sejam eles professores ou não, na minha opinião o artigo mais
deseduca do que informa àqueles que o leêm.